Mother (Maedo, 2009) e O Caçador (Chugyeogja, 2008), dois “policiais” coreanos, nenhum muito bom. Utilizo aspas porque pelo menos o primeiro subverte o gênero – sendo que ambos subvertem nossas expectativas constantemente em seu desenrolar.
Mãe tenta inocentar o filho de um assassinato em "Mother".
Mother prometia muito. Afinal de contas, seu diretor, Joon-ho Bong realizou um dos melhores filmes da última década, Memórias de um assassino (2003), sobre um serial killer que aterrorizou a Coréia nos anos 80. Na verdade, Bong toma um episódio desse excelente thriller – a prisão de um jovem retardado, totalmente baseada em evidências circunstanciais – e o transforma no núcleo de Mother. Agora, diante da indiferença de todos, a mãe do rapaz investigará o crime por conta própria a fim de inocentar o filho.
Infelizmente, Mother decepciona. Mais drama psicológico do que propriamente suspense, o filme trata, sim, de interessantes temas, como auto-engano, egoísmo, incompetência policial, bem como do sentimento de frustração que acompanha a injustiça, mas, sobretudo, do lado perverso do amor materno – algo que também deu as caras, com menos honestidade, no brasileiro Salve geral (2009).
A vila onde se passa a trama é torpe. O ser humano é quase sempre um grande crápula, que coloca seu interesse acima de tudo, é o que parece afirmar o diretor. Saudável misantropia – como também vimos no filme de Michael Haneke que abriu o festival.
Há inteligência e talento na tela, isso é indiscutível. O problema, porém, é que o diretor parece ter se deslumbrado com o argumento que bolou. Mother é, essencialmente, uma mixórdia. Seus vários bons elementos não se resolvem em uma narrativa satisfatória.
"O Caçador": thriller coreano de pouca imaginação.
Por sua vez, O Caçador, dirigido por Hong-jin Na, constitui um caso praticamente oposto – mesmo que também haja nele uma infinidade de autoridades incompetentes. A trama – sobre um ex-detetive que virou cafetão, cujas prostitutas desaparecem misteriosamente – prende a atenção logo de cara, com uma engenhosa seqüência inicial. De ritmo frenético, o filme cria e manipula tensão com muita eficácia – mas só até certo ponto. Trata-se, infelizmente, de um filme de ação bastante limitado, que bate na mesma tecla quase sempre (perseguições, pancadaria), tornando-se eventualmente cansativo. E para piorar as coisas, os realizadores ainda inserem um subtexto lamentavelmente melodramático, envolvendo uma prostituta raptada, sua pequena filha e a culpa sentida pelo protagonista. Relativamente satisfatório como entretenimento vazio, O Caçador é um caso clássico de falta de imaginação.
Cada um dos filmes será exibido só mais uma vez no FIC.
O Caçador passa primeiro, nesta quinta, dia 12 de novembro. Será às 18:30, na sala II da Academia de Tênis.
Mother será exibido no sábado, dia 14 de novembro, às 21:20, na sala VII da Academia.
– Túlio Sousa Borges (johnnyfavourite51@hotmail.com), colunista de cinema do Portal Brasil.