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Obrigado pela visita. Meu nome é  Túlio Sousa Borges, colunista de cinema do Portal Brasil:(http://www.portalbrasil.net/2009/colunas/cinema/colunas.htm)

 Cobrirei aqui o XI FIC Brasília, postando diariamente sobre diversos assuntos. Junto de cada crítica, você poderá ver quando o filme será exibido novamente (desde que a programação não seja alterada, é claro).

Leia, comente, indique. E sinta-se à vontade para me escrever: johnnyfavourite51@hotmail.com

Para mais informações, acesse o site oficial do FIC: www.ficbrasilia.com.br

Bons filmes!

Último dia

Chegou o último dia do FIC, com alguns destaques.

I) Felizmente, a Mostra de Filmes da Coréia do Sul tem entrada franca. De valioso, o espectador só perde seu tempo (supondo, é claro, que ele seja realmente valioso). Ainda não vi Legendary Courtesan, mas depois de minhas experiências com os filmes coreanos do festival, só o indicaria para o meu pior inimigo. Mas tem gente que leva até injeção na testa, se for de graça… Às 15:00, na sala IV da Academia de Tênis

 

II) Como já mencionei em outro post, March é a “estréia na direção do ator austríaco Klaus Händl. O filme trata do misterioso suicídio de três jovens numa pequena vila tirolesa. Parece ser lento, seco e recheado de psicologia germânica.” Às 15:10, na sala II da Academia de Tênis

 

III) Três talentosos cineastas (os franceses Leos Carax e Michel Gondry, e o coreano Joon-ho Bong) dirigem três estórias passadas na capital do Japão. O nome do filme? Tokyo! Tem agradado ao público e à crítica. Às 17:00, na sala IX da Academia

 

IV) Depois de mais uma confusão envolvendo o grande campeão de boxe, o documentário Tyson, que está participando da Mostra Competitiva, torna-se uma opção ainda mais interessante. Às 17:00, na sala X da Academia

 

V) À procura de Eric parece meio maluco, mas se trata do novo filme de Ken Loach. Às 17:10, na sala VI da Academia

 

VI) Coco Chanel & Igor Stravinsky, de Jan Kounen, será exibido na Cerimônia de Encerramento – que deve começar às 19:00. Quem melhor do que um sujeito obcecado por xamanismo para dirigir um filme que trata, em parte, do compositor da Sagração da primavera? A julgar por sua filmografia, Kounen não parece muito competente. Mas o tema de seu novo longa é, por si só, muito convidativo. O romance entre dois gênios crtiativos do último século, além de um vislumbre da época em que eles viveram – muito distante, embora próxima, de nossos tempos populistas e (como diria Ortega y Gasset) hiperdemocráticos. No Academia Hall

 

VII) Em tempos de Crepúsculo, Quero que você leia Pantagruel significa muito mais do que o título de um filme paraguaio. Às 19:20, na sala III da Academia

 

VIII) Dirigido pelo japonês Ryuichi Hiroki – um dos convidados especiais do XI FIC, o drama April Bride  tem comovido a platéia. Às 19:30, na sala IV da Academia

 

 

– Túlio Sousa Borges (johnnyfavourite51@hotmail.com), colunista de cinema do Portal Brasil

 

 

 

 

Última chance

Bons filme se despedem do festival nesse sábado:

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A iniqüidade de Ivan, o Terrível em "Tsar" (2009)

 

Às 15:20, na sala II da Academia: quem se interessa pela Rússia – ou por história, em geral – não pode perder a chance de assistir a Tsar (2009), pois é bastante improvável que a fita seja exibida novamente em cinemas brasileiros.

 

O longa se passa na década de 1560, quando o estabelecimento da guarda pessoal de Ivan, o Terrível – seus oprichniki – inaugura anos de terror na Rússia. Tsar demonstra a coerência estética e temática de seu diretor e ainda ecoa clássicos sobre o embate entre os poderes temporal e espiritual, como Becket (1964) e o Homem que não vendeu sua alma (1966). Além de espiritualmente rico, o filme tem valor instrutivo, ao ilustrar com perfeição importantes aspectos da história russa. (Num dado momento do filme, Ivan, o Terrível diz: “Você por acaso espera que eu ofereça a outra face a quem me agride ? (…) Sou um mau homem, um pecador, mas um bom tsar.” São palavras que foram realmente pronunciadas pelo infame monarca.) O único problema do filme é uma certa falta de sutileza.

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A charmosa produção francesa "Algo que você precisa saber"

 

Às 15:30, na sala IV da Academia: dirigido por Cécile Telerman, Algo que você precisa saber (2009) é um (cômico) drama de família francês; a charmosa estória de um grupo de adoráveis excêntricos. Essencialmente life-affirming (que celebra – ou exalta – a vida), lembra muito os filmes de Claude Lelouch.

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Patriotas americanos: "The Messenger"

 

Às 19:00, na sala VIII: outro que ecoa um predecessor clássico é The Messenger (2009). Mas se o filme lembra A um passo da eternidade (1953), consegue ser ainda melhor. E tem qualidade suficiente para ser instantaneamente considerado um clássico moderno.

 

O mensageiro do título carrega más notícias; é ninguém mais ninguém menos do que o oficial responsável por comunicar a morte de um soldado americano aos seus parentes mais próximos. Trata-se de um filme patriótico, sobre pessoas reais, com quem o espectador acaba se importando. Destaque para o visceral desempenho de Ben Foster – que poderia passar por irmão de Ryan Gosling.

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Vidas destruídas pela guerra em "Five Minutes of Heaven"

 

Às 19:30, na sala V: filme simples e bastante sólido, Five Minutes of Heaven (2009) trata do conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte. O drama coletivo vira individual ao afetar drasticamente as vidas de dois homens. Com ótimos desempenhos, Liam Neeson e James Nesbitt dão vida a essas duas fascinantes personagens.

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"Tulpan" é uma divertida viagem às estepes da Ásia Central

 

Às 19:40, na sala IV da Academia: uma das pérolas do festival, Tulpan (2008) é um filme em estilo documental sobre as estepes do Cazaquistão e as pessoas que as habitam. Recomendável para quem gostou de Camelos também choram (2003). Um detalhe importante: deve entrar em cartaz na Academia logo depois do FIC.

 

E ainda há três filmes chamativos (que eu ainda não vi) às 21:50: o polêmico Anticristo, de Lars von Trier (sala I); Ervas daninhas, do veterano Alain Resnais (sala II); e À Procura de Eric, de Ken Loach (sala IX).

 

 

– Túlio Sousa Borges (johnnyfavourite51@hotmail.com), colunista de cinema do Portal Brasil

 

 

Sexta-feira 13 no FIC!

Prezados leitores,

Deixo estas breves dicas para quem pretende ir ao FIC nessa sexta e não deseja se assustar.

 

– Às 17:00, tem Five Minutes of Heaven – na sala V, a princípio. Estrelado por Liam Neeson e dirigido pelo alemão Oliver Hirschbiegel (A Queda! As últimas horas de Hitler), trata-se de mais um drama sobre o conflito norte-irlandês, que parece, nesse caso, explorar o tema do perdão. Como ainda não vi o filme, não posso julgá-lo. Não obstante, minha intuição diz que ele agradará a quem gostou, por exemplo, de Frost/Nixon.

 

– Admiradores de Andrzej Wajda têm, às 18:30, mais uma oportunidade de ver Tatarak (leiam aqui minha crítica do filme).

 

– Quem gostou de Camelos também choram (2003) e/ou se interessa pela Ásia Central, não pode perder o belo Tulpan, uma das boas surpresas do FIC. Escreverei mais sobre o filme em breve.  A sessão começa às 19:10.

 

– Às 19:30, haverá mais uma sessão do ubíquo 5oo dias com ela, que não só entrou em cartaz no circuito comercial, como é o único filme programado para todos os dias (5-15/11) do FIC. Ainda não fui conferir, mas a platéia tem aprovado. No festival, o ingresso sai mais barato do que em outras salas – por diversas razões.  Também pode ser uma oportunidade de assistir a um filme comum no diferente clima do evento.

 

– Na sala do CCBB, às 21:00, tem March, estréia na direção do ator austríaco Klaus Händl. O filme trata do misterioso suicídio de três jovens numa pequena vila tirolesa. Parece ser lento, seco e recheado de psicologia germânica.

 

– Os russófilos não podem perder Tsar (2009) –  filme de Pavel Lungin sobre Ivan IV, o Terrível – às 21:20. O diretor chega com ótimas credenciais depois de ter dirigido A Ilha (Ostrov, 2006), um belo drama repleto de misticismo, que, coincidentemente, foi exibido no FIC 2007.

 

– Por fim, o FIC ainda agendou três sessões com convidados especiais. Só não sei se os filmes são recomendáveis:

*Às 20:15, será exibido o média-metragem brasileiro Rua dos bobos, seguido por debate/pequeno coquetel com a diretora Julia Martins e outros membros da produção.

*A atriz Victoria Tate estará na sessão de Prince of Broadway, que começa às 21:40.

*No mesmo horário, a francesa Elsa Amiel prestigia a sessão de Nulle part, terre promise, de que foi atriz e assistente de direção.

 

 

– Túlio Sousa Borges (johnnyfavourite51@hotmail.com), colunista de cinema do Portal Brasil

 

Dois “policiais” coreanos

Mother (Maedo, 2009) e O Caçador (Chugyeogja, 2008), dois “policiais” coreanos, nenhum muito bom. Utilizo aspas porque pelo menos o primeiro subverte o gênero – sendo que ambos subvertem nossas expectativas constantemente em seu desenrolar.

 

Maedo

Mãe tenta inocentar o filho de um assassinato em "Mother".

 

Mother prometia muito. Afinal de contas, seu diretor, Joon-ho Bong realizou um dos melhores filmes da última década, Memórias de um assassino (2003), sobre um serial killer que aterrorizou a Coréia nos anos 80. Na verdade, Bong toma um episódio desse excelente thriller – a prisão de um jovem retardado, totalmente baseada em evidências circunstanciais – e o transforma no núcleo de Mother. Agora, diante da indiferença de todos, a mãe do rapaz investigará o crime por conta própria a fim de inocentar o filho.

 

Infelizmente, Mother decepciona. Mais drama psicológico do que propriamente suspense, o filme trata, sim, de interessantes temas, como auto-engano, egoísmo, incompetência policial, bem como do sentimento de frustração que acompanha a injustiça, mas, sobretudo, do lado perverso do amor materno – algo que também deu as caras, com menos honestidade, no brasileiro Salve geral (2009).

 

A vila onde se passa a trama é torpe. O ser humano é quase sempre um grande crápula, que coloca seu interesse acima de tudo, é o que parece afirmar o diretor. Saudável misantropia – como também vimos no filme de Michael Haneke que abriu o festival.

 

Há inteligência e talento na tela, isso é indiscutível. O problema, porém, é que o diretor parece ter se deslumbrado com o argumento que bolou.  Mother é, essencialmente, uma mixórdia. Seus vários bons elementos não se resolvem em uma narrativa satisfatória.

 

o caçador

"O Caçador": thriller coreano de pouca imaginação.

 

Por sua vez, O Caçador, dirigido por Hong-jin Na, constitui um caso praticamente oposto – mesmo que também haja nele uma infinidade de autoridades incompetentes. A trama – sobre um ex-detetive que virou cafetão, cujas prostitutas desaparecem misteriosamente – prende a atenção logo de cara, com uma engenhosa seqüência inicial. De ritmo frenético, o filme cria e manipula tensão com muita eficácia – mas só até certo ponto. Trata-se, infelizmente, de um filme de ação bastante limitado, que bate na mesma tecla quase sempre (perseguições, pancadaria), tornando-se  eventualmente cansativo. E para piorar as coisas, os realizadores ainda inserem um subtexto lamentavelmente melodramático, envolvendo uma prostituta raptada, sua pequena filha e a culpa sentida pelo protagonista. Relativamente satisfatório como entretenimento vazio,  O Caçador é um caso clássico de falta de imaginação.

 

Cada um dos filmes será exibido só mais uma vez no FIC.

 

O Caçador passa primeiro, nesta quinta, dia 12 de novembro. Será às 18:30, na sala II da Academia de Tênis.

 

Mother será exibido no sábado, dia 14 de novembro, às  21:20, na sala VII da Academia.

 

 

Túlio Sousa Borges (johnnyfavourite51@hotmail.com), colunista de cinema do Portal Brasil.

 

O perfume dos cálamos

tatarak

 

Polônia, algum tempo depois da Segunda Guerra: Marta é uma respeitável senhora; ainda atraente, apesar da idade. Seu marido é o ocupado médico da pequena cidade onde vivem. Ele descobre que a esposa está terminalmente enferma, mas esconde isso dela. Entrementes, ela conhece o jovem Boguś, de quem se afeiçoa quase que instantaneamente. Sua atração pelo rapaz é a um só tempo sexual e maternal. Ele a faz lembrar de seus filhos, mortos quando combatiam no Levante de Varsóvia (os tradutores do FIC, que utilizaram a legenda em Inglês como fonte, entenderam uprise como  uma elevação geológica, não como uma revolta armada. Mais atenção, Zé Roberto Valente e cia.!).

 

Isso tudo é  um filme dentro do filme. As cenas de Marta são intercaladas a um monólogo sentido da atriz que a interpreta, Krystyna Janda – uma lenda do cinema polonês. Ela fala sobre o câncer que provocou a morte de seu marido, outro aclamado profissional cinematográfico, o fotógrafo Edward Kłosiński; e sobre como isso quase a impediu de trabalhar em Tatarak (acesse o site oficial). Aqui a realidade se confude com a ficção.

 

Em tese, até parece um filme de Godard – ou de Bergman, não de Andrzej Wajda (1926-), “o John Ford polonês”. Basta apenas uma leitura mais atenta da breve sinopse acima, porém, para percebermos sinais de que o filme realmente pertence à Wajda, ainda que não seja exatamente o tipo de coisa que ele costuma fazer.

 

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A verdade é que esse grande cineasta também é um homem velho, cada vez mais consciente, por certo, de sua própria mortalidade. Depois de homenagear seu pai e outros oficiais assassinados em Katyn (2007), Wajda resolveu rodar um filme sobre a vida e a morte – e sobre o próprio cinema.

 

Tatarak significa cálamo aromático, e seu valor simbólico fica claro num comentário feito pelo próprio diretor no início do filme.  A planta tem dois cheiros: pode exalar um perfume fresco e agradável ou um odor de morte. Seu aspecto é vivo, mas suas raízes estão fixadas no acúmulo de matéria morta do rio. É como o marido de Marta diz em um dado momento: “a vida pode se transformar rapidamente em morte”. A afirmação trata, sim, da própria natureza da vida – vista pelo cineasta como um rio por vezes imprevisível, mas também diz muito a respeito da história da Polônia e de sua juventude dizimada.

 

Tatarak até possui alguns traços de leveza, mas  a direção e mise-en-scène de Wajda continuam pesadas. Aqui, esses defeitos que sempre acompanharam a magnífica obra do diretor acabam prejudicando em demasia o resultado final. Se, por um lado, há muito que se admirar no filme; por outro, infelizmente, não se trata de uma obra-prima.

 

Próximas exibições no festival:

 

na quinta-feira, dia 12 de novembro – 21:20 –  sala I da Academia de Tênis;

 

na sexta 13 – 19:50 – sala II da Academia;

 

e no sábado, dia 14 – 17:40 – sala IV da Academia.

 

 

– Túlio Sousa Borges, colunista de cinema do Portal Brasil

 

 

 

 

 

Politist, adj. (2009)

Politist, adj.

 

Se o cinema iraniano merece uma salva de palmas e elogios, o atual cinema cinema romeno não fica muito atrás. 4 meses, 3 semanas e 2 dias (2007), de Cristian Mungiu, filme vencedor da Palma Ouro em Cannes ’07, é apenas o exemplo mais célebre de uma cinematografia moralmente séria.

 

 Selecionado na Romênia para disputar as indicações ao Oscar de Filme em Língua Estrangeira, Politist, adj. (2009), de Corneliu Porumboiu, é outro bom produto dessa recente safra, demonstrando característico interesse por complicadas questões morais. Vagaroso, o filme se passa em Vaslui, cidade média no leste do país, e – com muita atenção a detalhes cotidianos – acompanha a rotina de Cristi, policial responsável por uma investigação de narcóticos que poderá condenar à cadeia um adolescente que fuma haxixe com seus colegas. Ao contrário de seus superiores, o policial não deseja efetuar a prisão, pois acredita que isso arruinaria a vida de um rapaz tolo que não oferece grave perigo à sociedade. Opondo sua consciência à lei do Estado, Cristi tenta evitar o inevitável.

 

Quase uma tese filósofica sobre o embate/divórcio entre a lei positiva e o senso comum, Politist, adj. demanda paciência.  Trata-se do segundo longa desse jovem diretor de 34 anos; e toma muita coisa do primeiro, o igualmente interessente A leste de Bucareste (2006). Apesar do ritmo lento – e um tanto quanto cansativo, a fita fecha muito bem, por assim dizer, pois sua lógica é impecável.

 

Politist, adj. será exibido mais uma vez no FIC. Amanhã, terça-feira, às 19:20, na sala II da Academia de Tênis.

 

 

– Túlio Sousa Borges, colunista de cinema do Portal Brasil

 

Há quem discorde, mas o cinema iraniano é, incontestavelmente, muito bom. E por mais que o regime dos aitolás tente se apropriar desse fato em sua estratégia de diplomacia pública, a verdade é que os melhores cineastas iranianos lançam um olhar crítico sobre o país – caso de Jafar Panahi – diretor de filmes que foram proibidos por lá –   que teve seu passaporte confiscado há menos de um mês.

 

Á procura de Elly (2009), premiado em diversos festivais – inclusive com o Urso de Prata de Melhor Direção em Berlim – pode não ser abertamente polêmico, mas levanta importantes questões acerca do relacionamento entre os sexos no Irã. Tudo feito de maneira muito sutil, em uma narrativa surpreendente.

 

A estória:  três jovens casais de classe média vão com o amigo Ahmad, que retornou da Alemanha divorciado, passar um fim de semana prolongado no Mar Cáspio. Uma das mulheres é a inteligente Sepideh (Golshifteh Farahani, a namoradinha de Leonardo DiCaprio em Rede de mentiras), que, tentando encontrar uma nova esposa para Ahmad, aproveita para convidar a tímida Elly, professora de sua filha. Um pouco relutante, Elly acaba aceitando viajar com eles. E embora conheçam muito pouco a respeito da moça, os amigos torcem para que ela e Ahmad fiquem juntos.

 

Essa breve sinopse não sugere muita coisa, mas quem quer que tenha visto Dias e noites na floresta (1970) – do mestre indiano Satyajit Ray – pode comprovar que um fim de semana prolongado se transforma, não raro, em algo mais, modificando completamente a vida de todos os indivíduos. É o que acontece em À procura de Elly, prendendo a atenção do espectador.

 

O que vemos na tela é nada mais nada menos do que um triunfo – com muita elegância e simplicidade – do cinema narrativo. O filme trata de circunstâncias especificamente iranianas, mas lida ao mesmo tempo com a própria natureza humana. Quando esteve no Festival de Karlovy Vary, o jovem diretor Asghar Farhadi (1972-), que se graduou em Teatro, mencionou o quanto foi influenciado por Ibsen. À procura de Elly não poderia deixar isso mais claro.

 

Devemos esperar mais um pouco para saber com certeza, mas é bem provável que se trate do melhor filme do FIC. Imperdível, sem sombra de dúvidas. E é exatamente por isso que evitei contar muitos detalhes da trama.

 

Últimas chances para vê-lo no FIC:

na quarta-feira, dia 11 de novembro – 20:00 – sala VII da Academia de Tênis;

e na quinta-feira, dia 12 – também às 20:00 – e também na sala VII da Academia.

 

Túlio Sousa Borges, colunista de cinema do Portal Brasil

 

 

 

 

 

Essa fabulosa atriz britânica deveria ter ganho o Oscar por seu inesquecível desempenho em Il y a longtemps que je t’aime;  nem sequer indicada foi.  Cheguei a compará-la com Maria Calllas, sem saber que pouco tempo depois a atriz encarnaria uma magnífica heroína trágica em outra produção francesa,  Partir (2009), de Catherine Corsini.

 

Inspirada pelo clássico A Mulher do lado (1981), de François Truffaut, Corsini realizou um drama bastante coeso. Em oitenta cinco minutos, narra a estória de Suzanne Vidal (Scott Thomas), mulher de um médico bem-sucedido e mãe de dois filhos que de repente arrisca tudo para viver uma arrebatadora e perigosa paixão com o catalão Ivan (Sergi López), ex-presidiário que trabalha como pedreiro.

 

Apenas mais duas exibições antes do fim do Festival:

 

na segunda, dia 9 de novembro – 17:30 – sala I da Academia de Tênis;

 

e na terça, dia 10 – 17:10 – sala IV da Academia de Tênis.

 

 

– Túlio Sousa Borges, colunista de cinema do Portal Brasil

 

Terrivelmente banal

“Não devemos perder tempo com coisas idiotas”, diz o supervisor do necrotério em Epitáfio (2007), filme de terror exibido pelo FIC na Mostra da Coréia do Sul. É claro que a maioria dos filmes pareceria uma perda de tempo logo depois do documentário sobre a inspiradora vida de Andrei Tarkovski. Epitáfio conseguiu ser pior do que isso, porém. E olha que não deveria ser bem assim.

 

A morte é encarada de maneira curiosa – e bastante poética – no Extremo Oriente. Uma recente manifestação artística dessa atitude é o comovente drama japonês A Partida (Okuribito, 2008), merecido vencedor do último Oscar de Filme em Língua Estrangeira.

Filmes de terror orientais, cada vez mais comuns, constituem outro exemplo. Alguns são muito bons. Não é o caso de Epitáfio. Se ele chega a provocar calafrios, sua banalidade é ainda mais assustadora.

 

A estória começa no fim da década de 70, mas volta no tempo, à Coréia ocupada pelos japoneses durante a Segunda Guerra. E, pelo que vemos na tela, existem horrores mais terríveis do que a Guerra. Esse é um filme confuso, que mistura fantasmas e psicanálise, além de tratar de um misterioso serial killer. O aterrorizante som agudo de uma flauta anuncia o terror, que se situa no contraste entre branco e vermelho. Os estreantes irmãos Jeong carecem de imaginação, especialmente em suas risíveis referências a Psicose (1960), de Alfred Hitchcok.

 

De todo modo, se alguém quiser pagar para ver, o filme ainda será exibido nos seguintes dias e horários:

no domingo, dia 8 de novembro – 21:30 – sala V da Academia de Tênis;

 

e na quinta, dia 12 – 18:00 – sala X da Academia de Tênis

 

 

– Túlio Sousa Borges, colunista de cinema do Portal Brasil

 

 

Arte como vocação

Os verdadeiros artistas nos concedem um vislumbre da Verdade. Andrei Tarkovski (1932-1986) foi um deles. Encarava seu trabalho detrás das câmeras como uma vocação religiosa, como deixa claro no livro Esculpir o tempo, um verdadeiro tratado estético, finalizado pouco antes de sua prematura morte.

Tarkovski entregou sua vida à Arte e sofreu muito, especialmente com as dificuldades impostas pelos filisteus do regime soviético. Seu último filme intitula-se, não por acaso, O Sacrifício (Offret, 1986); e sua filmografia constitui, no todo, um tesouro espiritual. Já escrevi alhures que se Deus existe, Aleksandr Sokúrov (1951-) – outro mestre russo – é um de seus anjos. O mesmo pode ser dito sobre Tarkovski.

Andrei Tarkovski

Como aprendeu muito com Tarkovski – a ponto de ser considerado, talvez com algum equívoco, como seu discípulo,  o próprio Sókurov não poderia deixar de ser mencionado no documentário espanhol  La Zona de Tarkovski (2008), dirigido por Salomón Shang. O material, talhado para compor os “extras” de um DVD, é uma colagem um tanto quanto desajeitada de imagens antigas e depoimentos. Por vezes, a produção descamba para um experimentalismo impudente que não poderia estar mais distante do espírito do homenageado. Pior do que isso são os créditos iniciais, que mostram Tarkovski ao som da canção The End, da banda The Doors – como se Jim Morrison fosse um parente espiritual do diretor russo.

Apesor disso, até mesmo a edição do documentário – cujo foco é Solaris – tem lá seus méritos. E quando deixa a desejar, suas falhas passam despercebidas diante do valioso material garimpado. Além dos depoimentos de colaboradores, vemos raras imagens de Tarkovski na Itália, onde viveu alguns anos. Ele conversa com o lendário roteirista italiano Tonino Guerra – seu colaborador em Nostalgia (1983) – e revela sua admiração pela engenhosidade de Dovzhenko, pela poesia de Paradjanov, pela bondade de Fellini, pela obra de Antonioni, mas sobretudo pela simplicidade de Robert Bresson – que o diretor russo compara a Bach e Tolstói, seus grandes modelos.

Infelizmente, houve problemas de projeção na sala X da Academia de Tênis. A tela era muito pequena para comportar o formato do filme e o áudio estava baixo. Espero que a produção tenha consertado isso. Não obstante, quem é fã de Tarkovski – e mesmo quem não conhece seus filmes, mas tem interesse por um cinema espiritualmente elevado – deve marcar um horário na agenda para assistir La Zona de Tarkovski. Ficará emocionado, com toda certeza.

PRÓXIMAS EXIBIÇÕES:

Neste sábado, dia 7 de novembro – 17:00 – Sala III da Academia de Tênis;

Domingo, dia 8 de novembro – 15:10 – Sala X da Academia de Tênis;

Terça, dia 10 de novembro – 19:00 – Sala X da Academia de Tênis

 

– Túlio Sousa Borges, colunista de cinema do Portal Brasil